Tenho pensado, muitas vezes, no trabalho dos voluntários de todo o Mundo, no que os move, no que leva algumas pessoas a entregarem-se a uma atividade não remunerada, numa sociedade cada vez mais materialista e isolada, frequentemente exposta a situações de catástrofe, de epidemias, de guerra, onde o sofrimento humano é levado ao limite do suportável.
Tenho pensado, muitas vezes, no trabalho dos voluntários de todo o Mundo, no que os move, no que leva algumas pessoas a entregarem-se a uma atividade não remunerada, numa sociedade cada vez mais materialista e isolada, frequentemente exposta a situações de catástrofe, de epidemias, de guerra, onde o sofrimento humano é levado ao limite do suportável.
Histórias que nos entram em casa através da televisão, muitas vezes em direto e de forma excessivamente mediatizada, quase chocante, com o efeito perverso de criar defesas nas audiências, deixando-as cada vez mais alheadas do horror e do sofrimento, como se tudo não passasse de um “Show da Vida Real” em direto, uma emoção do momento, onde tudo será apagado com o episódio do dia seguinte.
Será que estes homens e mulheres voluntários sentem indiferença pela própria vida, pelos seus interesses pessoais? Julgo que não!
Coragem é certamente uma das palavras-chave, a coragem de assistir, de ajudar, de estar lá naquele momento. Por vezes, uma fração de segundo pode fazer a diferença para quem precisa, a diferença entre o desumano e o humano e, tantas vezes a alternância entre a vida e a morte, enquanto nós, comodamente instalados, assistimos pela televisão, em horário nobre.
Quando um voluntário amigo me pediu para construir uma página da Liga dos Amigos do Hospital de Santo António para a Internet, confesso que foi uma proposta inesperada mas simultaneamente interessante, a oportunidade de me aproximar dessas pessoas anónimas, de tentar perceber as razões que as levam a trabalhar para os outros, numa entrega desinteressada e generosa.
Assim, lancei mãos à obra, no conforto da minha casa ou do meu escritório, protegido, num ambiente “inócuo” tão diferente do meio hospitalar e longe das imagens e dos sons incómodos da dor e do sofrimento.
Por força do trabalho que aceitei e através do material que me fazem chegar, tento tomar conhecimento da História da Liga, do percurso dos seus Diretores e da atividade dos voluntários no Hospital.
Entre as linhas do código de construção das páginas e as linhas dos textos, dos depoimentos, das fotografias, vou construindo a minha imagem, o meu “ambiente” dos voluntários da Liga. Imagino-me na situação inquietante dos doentes: confusos, sem saberem muitas vezes do que padecem, qual o limite da dor e como seria importante terem alguém que lhes dirigisse um olhar, lhes falasse, os mantivessem ancorados à condição humana.
Depois, já liberto desses pensamentos aflitivos, quase de pesadelo, continuo o meu trabalho com o alivio crescente de saber que nos hospitais existem pessoas com coragem para serem voluntárias, para auxiliarem quem se encontra em condição de saúde debilitada, tentando que não sejam apenas um número, um corpo doente.
Constatei que as mulheres, sempre presentes nestas situações, são a maioria. Mais preparadas para lidar com a dor, como se a cura, à semelhança da própria palavra, fosse do género feminino. A Natureza, perfeita, preparou-as para as dores da maternidade e dos Homens, e funciona! A sua presença, por si só, tem o dom de nos acalmar o sofrimento.
Espero estar à altura desta tarefa, também ela voluntária, embora incomparavelmente mais fácil, acreditando que me perdoarão por tudo aquilo que ficará certamente omitido, sobre a realidade do trabalho do Voluntariado da Liga dos Amigos do Hospital de Santo António.
José Seabra
Voluntário, Hospital de Santo António